As folhas das árvores, puxadas pelo vento, dão movimento a uma paisagem esquecida por entre a escuridão. Os candeeiros recordam que as coisas existem, pelo menos o que se encontra por perto, revelando o local no vácuo que o rodeia. Revelam também, sob as árvores, a estrada que se prolonga defronte de mim, para nenhures. E errando por ela fora, e quando mais me perco no escuro das coisas, mais os meus olhos se tornam nítidos para o que sou. Mais me abriga a escuridão, o vazio. Mais o mundo me parece distorcido e tudo me parece o meu mundo, e eu livre nele para divagar, pelos pensamentos que se criam e se expandem nas vistas. Mais os meus olhos se tornam nítidos para o que sou.

Vejo uma ponte a desabar, vejo casas a desmoronarem-se, vejo o concreto a voltar à sua origem, ao vazio e ao caos, vejo espaço a ser reaproveitado, negócio para o que é mais novo e mais moderno, vejo os detritos a esvoaçarem, a confundirem-se no ar, tempestade de ruínas girando pelos meus olhos. Tudo se transforma em movimento, tudo se reconstitui num novo mundo. E eu pela estrada fora procuro abrigar-me dos destroços, “quero ir para casa, preciso de um sítio para estar”. Mas agora não há nenhum sítio para estar.


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