As oportunidades do tempo

Uma pessoa anseia por se aproximar de outra pessoa: estar com ela, sentir a sua presença, ouvir a sua voz. No entanto, a pessoa tem um "problema": é tímida. Qual das duas o é, tanto faz, ou até as duas o são.

Sendo tímida, uma pessoa tem tendência para chamar só com os olhos a outra, ou seja: tomar uma posição passiva, contentando-se em esperar, enquanto sonhando com as possibilidades, em vez de activamente procurar a aproximação tão desejada.

Uma pessoa anseia por se aproximar de outra pessoa. A outra pessoa mantém-se distante, quer por timidez, quer por algo mais assustador, como o desinteresse.

Então, passiva, sonha.

Nos sonhos, anda e anda, constantemente a conhecer novas caras, novas paisagens; ou simplesmente a recordar eventos, locais, amizades que se sucederam anteriormente. Anda mais do que a timidez a atreveria a fazer na realidade. Anda, mas cada passo é motivado pela esperança de ver a outra, de a encontrar. E encontra-a, nos sonhos, de relance. Então tenta aproximar-se, sempre na ânsia de sentir o conforto da presença dela. Depois perde-a de vista. E uma vez mais anda e anda, à procura, e toda a sequência repete-se - sempre com a ansiedade despertada de a encontrar, depois o instinto de lhe atrair a atenção, finalmente o atrevimento de tentar avançar, não com passos desta vez, mas avançar sim na relação: estar com ela, pressenti-la, ouvi-la. Lado a lado juntos.

A pessoa tímida acorda. Apercebe-se: mais um sonho que acabou tal como começou. Uma vontade de avançar em frente, que após andar e andar, não se chega a lado algum, mantém-se no mesmo sítio, como uma caminhada sempre esperançosa, e por isso monotonamente eterna. Deprimente. Mas o sonho lá teve que chegar ao fim.

Sonhos baseiam-se na realidade (e às vezes a realidade quase que se assemelha aos sonhos; esta do andar e vê-la, andar e vê-la; chegar ao final do dia, adeus, até ao próximo), e até os sonhos têm um fim: uma hora onde acaba. E aí é tarde: acabou.

Um período de tempo acabou. Semanas esvoaçaram desde que se viram. Tiveram sorte: um outro período, um ultimo período, aproxima-se. Um número semelhante de semanas hão-de esvoaçar. Como acabará?

A caminhada das Decisões

Um anda perdido num bosque. É um bosque muito especial: não é material. Antes, reside na alma e na mente. Perdido num bosque sem direcção, mas com um objectivo claro de alcançar: um objectivo que envolve uma outra pessoa.

Rondam em redor deste bosque inúmeros troncos, inúmeros caminhos entre eles: inúmeras possibilidades de escolha e de acção. Mas por qual deles prosseguir, quando neste universo íntimo e pessoal a única luz que guia é a do pensamento?

Uma luz situada no espaço certo pelo raciocínio, para destacar alguns caminhos e enegrecer outros. Uma luz pintada pela imaginação, para supor as consequências ainda incertas no final de cada percurso - pois os nossos olhos, para tal, por si próprios, tal como nós, são muito pequeninos para o fazer com total clareza.

Numa caminhada onde cada passo se sente, se impõe no nosso estado de espírito, tiranizando-o para o bem ou para o mal, por qual percurso optar? O que menos cansa, o mais rápido? Ou o prolongado e cruel?

Uma luz que torna visível um determinado número de caminhos, mas que não chega a ser suficiente para especificar qual deles o mais certo, o mais definitivo.

Esta luz que nos faz tomar decisões, por si, não é suficiente, apenas porque reside unicamente num único universo: no nosso. Num outro bosque, a outra pessoa também caminha. A luz desse bosque é outra, de um outro universo.

Um novo excerto

Nos últimos meses a minha escrita tem vindo a evoluir um pouco. A minha mentalidade em relação à escrita tem evoluído também. Posso até dizer que nunca me deu tanto gosto escrever como agora. Engraçado, porque cada vez tenho tido menos tempo para o fazer, mas talvez por isso mesmo: quando me encontro com tempo livre, a escrita, juntamente com a leitura (e ambos dão-se par a par lindamente), têm-me oferecido uma satisfação e prazer maiores que anteriormente, simultaneamente servindo como um descanso, que me relaxam do cansaço com que tenho chegado a casa nos dias de semana (tenho simplesmente um horário muito cheio).

Visto com o excerto anterior tem alguns meses, datando deste Novembro (podia jurar que era bem mais antigo!), resolvi pôr algo que criei mais recentemente, nos últimos dias aliás.

É o primeiro capítulo de uma nova história que comecei. Não o está aqui completo. Na verdade ainda não sei como o continuarei, é uma coisa que costumo decidir enquanto vou escrevendo. E críticas serão sempre bem vindas, claro: quero estar consciente de todos os problemas que o texto poderá ter: quero continuar a aprender.

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Descasando da cidade atrás de si, vira-se do percurso da estrada – deste vestígio urbano – perdendo-a de vista, perdendo-se nos campos, pelo rumo que as frescas aragens da natureza o levam, num divagar solto, como se desnudado das preocupações que o esperam quando voltar – o que por si dá um certo clima de insegurança também: nunca antes pensou em quebrar o ritmo do dia-a-dia normal. Mas aqui está ele, a respirar uma leveza refrescante para uma tarde que pôde muito bem ter sido apenas mais uma.
Casas repousam ao de longe: das chaminés se levanta o fumo ao de leve, livre, devagar desvanecendo no azul vivo do céu que se expande sobre as verdejantes expansões de terreno em todo o redor; e abrindo o espírito os braços para esta redescoberta, este refresco, este respiro: relaxando já com esta ideia: vê, um corpo, caído, no solo, ali à sua frente, ali jazendo perdido sem ninguém mais à vista, de vestido branco por entre os verdes e amarelos, tecido ondeando ao som do vento, ondeando também as ondas do cabelo loiro, quem poderá ser, o que terá acontecido?
- Há algum problema? – Ouve-se, e sem resposta continua a avançar até ela, coração começando a pesar, consciência também, o passo ainda mais, e tentando uma outra vez, suspira:
- Estás bem?
Mas a face dela dorme como se despercebida de tudo. Pelo menos um tom saudável corre na sua pele. Abana-a, sente-a quente: suficiente para abrandar o ritmo inquieto; no entanto insiste, chama-a, levar-lhe-á àquela aldeia se preciso. E uma outra vez insiste.
A rapariga acorda, mostra à realidade os seus olhos ainda meio postos sobre a mesma, meio perdidos, duvidosos; e sentando-se, ronda-os pelo redor. Depois estabelece-os nele. Se tenta dizer algo, acaba por não o fazer, e aí permanece…
- Encontrei-te no chão, fiquei preocupado. Está tudo bem contigo?
Ela esfrega a cara. Apreensivo, ele aguarda-a. E por fim, a rapariga diz:
- Não sei o que me deu. Obrigada.
E assim, ainda amolecida, calma, não diz mais nada.

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Editado: Alterei a ultima parte do excerto (para melhor, espero eu).