Tempo de mudar (de sítio)

Depois de quase dois anos a usar o Blogger, optei por mover o meu blogue para o wordpress.

Importei todos os textos e comentários daqui, portanto nesse sentido continua o mesmo. Muda-se apenas o nome e, bem, algumas funcionalidades extra que me dão jeito.

Agradecia que parassem de comentar neste. Na verdade, vou desactivar por completo os comentários aqui.

Nova hiperligação para o blogue:
http://diogoals.wordpress.com/

Vejo-vos lá!

As folhas das árvores, puxadas pelo vento, dão movimento a uma paisagem esquecida por entre a escuridão. Os candeeiros recordam que as coisas existem, pelo menos o que se encontra por perto, revelando o local no vácuo que o rodeia. Revelam também, sob as árvores, a estrada que se prolonga defronte de mim, para nenhures. E errando por ela fora, e quando mais me perco no escuro das coisas, mais os meus olhos se tornam nítidos para o que sou. Mais me abriga a escuridão, o vazio. Mais o mundo me parece distorcido e tudo me parece o meu mundo, e eu livre nele para divagar, pelos pensamentos que se criam e se expandem nas vistas. Mais os meus olhos se tornam nítidos para o que sou.

Vejo uma ponte a desabar, vejo casas a desmoronarem-se, vejo o concreto a voltar à sua origem, ao vazio e ao caos, vejo espaço a ser reaproveitado, negócio para o que é mais novo e mais moderno, vejo os detritos a esvoaçarem, a confundirem-se no ar, tempestade de ruínas girando pelos meus olhos. Tudo se transforma em movimento, tudo se reconstitui num novo mundo. E eu pela estrada fora procuro abrigar-me dos destroços, “quero ir para casa, preciso de um sítio para estar”. Mas agora não há nenhum sítio para estar.

A dor é uma tirania

Instala-se a dor no meu frágil ser
Como uma máquina insensível,
Aparelho de um só ruído
Que se prolonga e em prolongar-se insiste,
Assim pondo-se intrujo na minha natureza até,
Como intrujo, ser esquecido.

E a esse ruído junta-se um outro,
Desta vez uma voz,
Uma coisa mais humana!, frágil então,
Uma voz repetindo
“Eu não quero sofrer,
Eu estou a sofrer”.

Olhando para trás

Quando estou entre as coisas do passado, sentindo o peso de anos nelas acumulado, o meu ser dispõe-se a ausentar-se. Nelas, agora, já não sou eu, sou o que era. Ventos de outras épocas que me trouxeram este meu outro. Vejo-me à minha frente, a dizer-me “vem brincar comigo”.

É uma paisagem onde a cor se desvanece com a distância. Até no chão que piso uma névoa separa-o de mim. (É a distância vista na névoa que o separa de mim.)

“Vem brincar comigo. Vamos a uma viagem.” Acordam os brinquedos todos espalhados por todo o lado, e começam a marchar. Soam as trombetas. Em fila avançam para a batalha de ambição heroica que definiu a ambição de uma criança. Em fila passam e deixam marco na paisagem. As cores dos brinquedos tomam o centro; as da paisagem seguem-nas, separando-se das formas para o qual estão agarradas, diluindo-as. Uma paisagem toda que se enrola e serpenteia num comboio avançando no seu rumo, e eu lá vi a minha criança liderando, apitando o veículo. Lá o vi sorrindo, era todo ele brincadeira. Lá o vi a seguir o seu rumo e a desaparecer na névoa.