Brincar

Brincando na minha secretária, eu esboço o que a imaginação me liberta.

Sou um sonhador. Em toda a minha vida sonho, constantemente. Sonho com amigos ou com outras pessoas que me capturaram o interesse. Sonho com o que faço, ou o que poderei fazer. Sonho com ideias que se destacam da realidade, que me pairam na cabeça e valem só por si, pelo meu gosto por elas. Vivo, portanto, uma parte da minha vida a sonhar.

Desde sempre libertei a minha criatividade, no papel, no computador, algures. E fi-lo até deitado no chão, na ausência de um sítio melhor; senão, no conforto da minha cama, na distracção em plena escola, numa mesa seja qual for, da cozinha se necessário, ou da minha secretária.

Brincando hoje na minha secretária, eu penso na minha infância, e penso-a porque me disseram, uma vez mais: “Tenho saudades daqueles tempos”. Penso na minha infância e apercebo-me: “Ainda a vivo. Alterada, de acordo com a alteração da minha pessoa ao longo dos anos. Alterada com as mudanças nos meus pontos de vista, nas minhas perspectivas da vida, ou com base nas experiências mais ou menos boas que me esbati. Mas ainda a vivo, porque ainda me completa, e a minha vida a ela completa.”

Liberto a minha imaginação, porque assim me liberto.

Hoje, bem mais velho, na minha secretária, eu ainda brinco.

Oportunidades do tempo (ii)

Com o tempo as coisas resolvem-se.
Subestimei o tempo, e agora encontro-me incompleto,
Arrancado de uma situação
Que ainda tem muito que se lhe diga.
E o tempo poucas mais oportunidades me dá!

Mas tempo há sempre para reflectir,
E reflectindo, concluo:
Estimei o eu que idealizo,
O eu que deveria de reagir e dizer
De uma determinada maneira,
Numa determinada situação;
E vi-me totalmente incapaz,
Quando me apercebi que,
Pressionado, sou uma outra pessoa.

Tendo-me iludido, assim aproveitei o tempo
A não preparar-me para a realidade.

Um texto sem nome...

    Adianta-se o dia em que pensarei: “Hoje poderia estar melhor.”
      E digo-me: “Quero evitá-lo.”
      “Como?”
    Pergunto então a uma certa outra pessoa: “Como?”
      E tudo mantém-se na mesma.
Às vezes, cabe só a nós.

    A outra pessoa poderá vir a estar melhor, e assim também eu estarei.
      Mostra que o quer. Mas diz que não.
        Como uma criança apanhada a fazer algo às escondidas, para depois nos tentar convencer que não, que não tentou fazer nada fora do normal. E insiste.
    Insistindo, tudo mantém-se na mesma.
Às vezes, não cabe só a nós.