Reflexão inesperada após ler Eça...

Sob as expectativas que Os Maias me deixaram em relação ao estilo Realista/ Naturalista do autor Eça de Queirós, peguei n'A Relíquia esperando algo semelhante (e em menor dose). O que obtive no fim foi uma experiência muito mais memorável da qual esperava: A existência da fantasia - e a mestria no seu uso!

Quem diria! Sempre vi o fantástico como uma fonte interminável de potencial para liberdade de expressão. Através da fantasia, um autor pode apresentar uma ideia ou tema ao seus leitores de uma maneira diferente à qual estes o esperariam, pondo-os a reflectir sobre a respectiva ideia ou tema; e reflectirem podem também os personagens quando são postos em cenários únicos como a fantasia consegue fazer e muito bem - principalmente no caso de cenários impossíveis de se concretizar na realidade.

Tal uso da fantasia acontece n'A Relíquia: o misterioso sonho do protagonista, em que este faz uma viagem ao passado e assiste a toda a hipocrisia e mentalidades da altura, detalhes que acabam por ter um papel importante nos temas principais da obra; e a consciência do protagonista que toma forma e fala com ele. Eventos que também seriam muito menos memoráveis se não fossem tão únicos.

Há quem goste de impor que a fantasia serve puramente para oferecer "entretenimento leve" e servir para "escapar da realidade". São pessoas que não pensaram muito no assunto, mas não os culpo por isso. Ou então são apenas gente sem imaginação. Paciência, nem todos têm as mesmas virtudes...
Mas alguns chegam até ao ponto de achar infantil qualquer pessoa que argumente a favor da sua utilidade para fins mais sérios, e aí temos um caso sério de gente que anseia por se sentir adulta (nah, só posso estar a brincar, alguma vez lhes passaria pela cabeça tal coisa!). Pena para estes que tal "regra" só está escrita nas suas cabecinhas e em mais lado nenhum. Se as cabecinhas de uns são "infantis", o que se poderá dizer destas? E em alguns casos é só para livros, o resto não! Sim, porque já vi certas pessoas que, quando é para filmes sérios, podem muito bem ter elementos fantásticos, é como se fosse a coisa mais natural do mundo. Se as cabecinhas de uns são "infantis", o que se poderá dizer destas?

...No entanto, foram graças a tais comportamentos que comecei a interessar-me mais - e procurar mais intensamente - obras literárias em que faziam uso da fantasia. Foi por isso que o Memorial do Convento me atraiu, por isso também a minha leitura d'A Relíquia acabou por me surpreender bem mais do que esperava, por tudo isto acabei por escrever esta mensagem.